26 de mai. de 2009

Rachele Steingruber - pequena biografia

Rachele Steingruber era, enquanto encarnada, e deve ser muito mais como desencarnada, um espírito profundamente sensível ao sofrimento dos seus irmãos. O anjo de Mato Grosso, como era conhecida, nasceu na cidade de Wald, no cantão Zurique, em 1918.
A quarta filha de seus pais, aos três aninhos de idade já começou a ajudar nos serviços da casa. Certa vez, ao ganhar uma rosa como recompensa por uma tarefa realizada, Rachele leva a rosa para a tia da escola, e vê pela primeira vez o efeito de um gesto de amor espontâneo. Percebe ela que os olhos da professora resplandeceram de alegria. Duas lágricas rolaram pela face da tia. Neste momento, diz Rachele, "eu percebi que é preciso bem pouco para fazer uma pessoa feliz".
Rachele cresceu, e durante suas férias escolares, o que fazia? Ficava a brincar? Não, ela ajudava os idosos ou deficientes e encontrava muitas oportunidades para isso.
Lá estava Rachele a cuidar da saúde de trezentas crianças podbre de Paris, nas férias. Estavem em uma colônia de férias na cidadezinha de Genolier, acima de Nyon. Rachele fazia esta trabalho gratuitamente. Diz ela "é lógico que eu fazia tudo de graça. Dar ajuda e amor aos necessitados era paga suficiente para mim." Foi nesta época que ela começou a querer ser enfermeira.
Depois de completar seus estudos, Rachele trabalhou um bom período em diversos hospitais, como arrumadeira. Ela queria descobrir onde gostaria de fazer o seu aprendizado.
Já no seu tempo de aprendizado como enfermeira, ela era infatigável. Todo horário livre que tinha era sacrificado para ajudar os outros. Rachele terminou seus estudos em 1945, recebendo o diploma de enfermeira da Cruz Vermelha, aos 27 anos. Foi transferida para o Hospital dos Incuráveis, e como se fosse milagre, os enfermos do hospital curavam bem rápidot, com a ajuda e dedicação de Rachele.
Em 1949, Rachele recebe uma carta de seu irmão caçula Benjamin, contando da incrível miséria no Brasil.
Desde a sua infância ele se sentia fascinado pelas histórias da selva, dos animais selvagens e dos índios. Ele mergulhou nas imensas selvas de Mato Grosso - o inferno verde. Ele trabalhava como peão nas fazendas, colhendo borracha, para ganhar o seu sustento. Os seus colegas índios lhe ensinavam como viver na selva. O jovem, que tinha abandonado a civilização, vivia agora da maneira que sempre quis.
Rachele veio ao Brasil pela primeira vez para afastar a tristeza da perda dos pais.
Benjamin, seu irmão, avisou a todos os seus amigos e colegas da visita. Ele conhecia muito bem a irmã, e sabia que ela não viria fazer férias de descanso, mas sim ajudar os pobres.
Já no aeroporto ele apresentou Rachele ao médido chefe da Maternidade de Cuiabá, que contratou imediatamente a pequena e magrela enfermeira suíça como enfermeira chefe. O seu salário não era mais alto do que uma gorjeta, mesmo assim ela ficou em Cuiabá por um ano.
Rachele não falava português, e se comunicava com gestos.
Contou que "numa das manhãs, quando me levantei, eu cheguei na porta do hospital e encontrei uma moça índia chorando. Eu imediatamente reconheci: ela não tinha dinheiro e nenhuma indicação de algum médico, por isso ela havia passado a noite ao ar livre. Ali mesmo, ela deu a luz a uma menina. A indígena, exausta, deve ter deixado o nenê cair, o pequeno corpo, ensaguentado e sem vida, jazia no chão ao seu lado. Eu cuidei da infeliz mãe e enterrei a criança. Com este fato, eu pedi minha demissão do hospital e procurei meu irmão"
Em Cuiabá e nas outras cidades de Mato Grosso, sofrimentos como este faziam parte do dia a dia deste povo doente e desanimado.
Explicou ao irmão que desejava ficar aqui. Sua meta seria ajudar esta gente. "Se eu voltasse a trabalhar na Suíça, para cuidar de suíços ricos, eu não teria mais sossego. Eu não queria e não podia ver pessoas sofrendo somente por não ter dinheiro para se tratar".
Rachele volta para Suíça apenas para aperfeiçoar seus conhecimentos. Lá trabalha e estuda arduamente, até receber o convite de Benjamin, depois de um ano em Genebra, para voltar ao Brasil e ajudar um casal missionário que vivia numa área com mais de cem quilômetros sem médico.
Rachele decide melhorar seus conhecimentos e nas horas livres, ia à clínica odontológica para aprender a extrair dentes. Ia na clínica oftalmológica para aprender a fazer tratamentos simples dos olhos.
Com a poupança que conseguiu fazer, comprou passagem e instrumentos cirúrgicos, bisturis, seringas, medicamentos e ataduras, para montar um consulório próprio.
O grande dia chegou. Sua irmã, Rebecca, que também era enfermeira, a acompanhou, de carro, de Ascona até Gênova.
Lá se despediram e Rachele tomou o navio que a levaria a Santos. Um ônibus a levou para São Paulo e de lá um avião para Cuiabá. No dia seguinte, Rachele foi com seu irmão Benjamin para Rosário do Oeste, junto com os missionários.
Chegando lá, diante de sua futura e modesta casinha, já esperavam muitas mãe com crianças doentes. Naquela época, cerca de duas mil pessoas moravam em Rosário do Oeste, sendo a maioria delas mestiças. Menos de cem quilômetros dali, havia povoações indígenas.
Uma casinha de barro servia como moradia. Ela tinha dois cômodos. Um deles era o quarto de Rachele. O outro era o consultório.

Mas a situação pegou Rachele de surpresa: por todo canto havia doentes, mesmo seu quarto ela repartia com gente necessitada de ajuda. Ela procurava ter um mínimo de privacidade, usando um biombo.
Para eles, ela era a mulher branca enviada, pela misericórdia de Deus, para ajudá-los. A notícida da sua presença e sobre seus tratamentos se espalharam rapidamente. Rachele tinha que trabalhar a noite toda, pois as pessoas começavam a chegar de madruagada, e batiam na sua porta. E Rachele não sabia fechar os seus ouvidos e pedir que tivessem paciência até de manhã.
Poucas pessoas no mundo são capazes de renunciar a fama, dinheiro, conforto material, amigos, família, para se entregar a tarefa árdua e cansativa de exercício de amor ao próximo.
Esta missionária escreveu no livro dos que amam a vida, uma das mais belas páginas relacionadas com o alívio do sofrimento físico espiritual de um povo sem recurso e sem amparo.
Assim começou e foi durante sua vida em nosso estado, que o Anjo de Mato Grosso, com suas mãeos, cuidou e curou muitos índios, homens, mulheres e crianças. Renunciou uma vida toda, por amor ao próximo, aos mais necessitados.

Um comentário:

  1. Ah, agora encontrei as informações sobre a sra. Rachele! Belíssima trajetória.

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