14 de jun. de 2009

Livro: O ANJO DE MATO GROSSO (Hans Haller)


Prefácio

Situado acima da cidadezinha Brissago (na parte italiana da Suíça) se encontra um lar de velhinhos. O caminho para lá é uma ruazinha estreita que vai serpenteando morro acima em direção à aldeia Piodina. O lar parece um ninho de águia reinando sobre a encosta íngreme e possui uma vista deslumbrante sobre o Lago Maggiore e suas margens no lado oposto.

Faz alguns dias começou a almoçar aqui uma senhora que não mora nesta colônia.
A maioria dos moradores a conhecem de vista, mas não sabem muito a seu respeito. Ela é Rachele Steingruber, uma enfermeira que foi criada nesta região de Locarno. Ela mora já há alguns anos numa pequena moradia situada a 100 metros daqui. As pessoas não a conhecem bem, porque ela passou a maior parte dos seus 78 anos no longíquo Brasil. Conhecida lá como "O Anjo de Mato Grosso”, ela criou uma obra de assistência para ajudar realmente a criaturas muito pobres. As pessoas a comparam com a legendária "Madre Tereza”.

Ao ver esta pequena, magra e frágil senhora, mal se pode acreditar que ela possua tanta energia. Quando ela vem ao lar dos velhinhos, está sempre usando óculos esuros. Certamente deve sofrer de alguma doença dos olhos. Ela mal nota as outras pessoas que almoçam lá. Se acomoda numa mesa, sempre sozinha, com um ar distraído. Depois da refeição, se despede e volta para a sua casa.

Numa das mesas próximas, um grupo de senhoras observavam este ritual cotidiano. A porta-voz do grupo, uma velhinha forte e enérgica de mais de 80 anos, comentou com suas colegas, depois que Raquel deixou o refeitório:

"Eu conheci a Raquel há muitos anos atrás. Além disso, eu fui amiga da irmã dela, a Rebecca. Eu acho que ela se sente bem só aqui. O que vocês acham de convidá-la para almoçar na nossa mesa amanhã ?“

As outras concordaram. Uma velhinha toda enrugada falou com sua voz trêmula em falsete:

”Nós poderíamos perguntar se ela estaria disposta a nos relatar casos da sua vida. Eu posso imaginar que ela deve ter vivenciado muita coisa . As nossas histórias já sabemos de cor. Temos que providenciar algo contra o nosso tédio !”

Os membros do grupo concordaram novamente.

No dia seguinte, quando Raquel Steingruber se sentou no seu lugar habitual, a se-
nhora fortona se aproximou dela.

”Você não se lembra de mim, Raquel ? Eu sou a Anna Pedroni de Porto-Ronco. Você gostaria de almoçar com a gente ?

Ela respondeu com sua inconfundível voz cantante:
”Com muito prazer. Assim de perto, eu a estou quase reconhecendo. Infelizmente, a minha vista está muito ruim. Eu estou praticamente cega. Os meus olhos me doem muito e para protegê-los eu uso estes óculos.”

As duas senhoras se dirigem à mesa ao lado e Anna apresenta suas colegas:
”Você deve conhecer todas de vista. Elas são desta região como você. Esta é a Rosa, a Rita, a Maria e a Graziella. Sente-se. Nós lhe desejamos um bom apetite !

Após a refeição, a senhora com a voz em falsete disse:

”Sempre depois do almoço, nós nos entretemos contando histórias das nossas vidas. Como já estamos há muito tempo neste lar, as nossas histórias já estão muito batidas. Seria muito bom se você contasse as suas vivências para nós. O que você acha disso ?

”Está bem. Muitas vezes eu me sinto muito só em casa. Infelizmente, enquanto meus olhos não melhorarem, eu não posso ir mais para o Brasil. Na companhia de vocês o tempo passará mais rápido.

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