16 de jun. de 2009

Livro: O ANJO DE MATO GROSSO (Hans Haller)


1. Infância / Juventude (parte II)


Graziella, a velhinha mais nova do nosso grupo, foi buscar café e bolo para todas. Depois de servir o lanche ela pediu para que Raquel continuasse.

”Eu fiz os primeiros anos na Escola Primária em Porto-Ronco. Lá era usual que a professora recompensasse o melhor aluno no fim de cada mês. Em uma das vezes eu fui um deles. Como recompensa, a freira pegou a minha mão e me conduziu até a torre da igreja. Chegando, ela me deu uma corda grossa cheia de nós e disse:

Agora são exatamente 12 horas. Você tem que puxar a corda com toda força .
Eu assustei com os primeiros toques do sino, mas depois, eu não quis parar mais. De vez enquando eu descansava um pouquinho e continuava. A freira foi embora e muitas pessoas foram aparecendo. Eles achavam que havia acontecido alguma coisa importante. Um deles se admirou por uma menina, tão pequena, conseguir bater o sino por tanto tempo em seguida. Para mim este acontecimento me incen-tivou a continuar tendo boas notas na escola.“

Anna Pedroni se recordou: Eu estava, naquela época, no quinto ano e sua irmã Rebecca era minha vizinha de carteira. Eu também fiquei curiosa em saber porque o sino estava batendo tanto tempo. No primeiro e segundo ano escolar eu também tive aulas com essa sua professora, mas, infelizmente, eu nunca fui a melhor da classe e por isso nunca tive o prazer desta recompensa.

Maria sorriu satisfeita: ”O que você não conseguiu como criança está recuperando agora. No nosso grupo você é a lider e consegue fazer com que a gente não fique totalmente esclerosada”.

As outras acharam graça e Raquel também concordou e continuou:

”Nossa família mudou-se para Ascona. Uma só professora lecionava em uma sala de aula para 70 crianças do terceiro e quarto ano. Era exigir demais dela ! No fim do ano letivo ela pediu que eu ficasse depois das aulas, pois, para o exame final todos os cadernos deveriam receber uma pequena decoração ou um desenho.

Eu já, quando criança, gostava muito de desenhar. Assim, ajudei a minha professora a fazer esta enorme tarefa. Eu ainda amarrei uma fitinha colorida em cada caderno e tudo ficou bonitinho. Eu fiquei toda orgulhosa. Como recompensa a professora me deu uma laranja. Toda feliz, eu corri para casa e reparti com todos. Naqueles tempos esta era uma fruta tropical muito rara aqui na Suíça. Antigamente as pessoas se contentavam com pouco !“

Rosa concordou com isto: ” É isso mesmo ! Hoje em dia os supermercados estão abarrotados de produtos tropicais. As crianças nem imaginam o que uma laranja ou uma banana significavam naquele tempo. Hoje, estas frutas já são bem corriqueiras. Exóticas são mais as mangas, abacaxis ou mamões”.

Anna acrescentou: ” É, mas os consumidores agora costumam desprezar as nossas frutas aqui. Nós ainda costumávamos fazer compotas de pêssego, damasco ou ameixa, armazenar as maçãs no porão e secar as peras. Tudo isto para, no longo inverno suiço, ter frutas para comer. Hoje em dia quase todos compram produtos frescos e não querem mais ter o trabalho de antigamente”.

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