19 de jun. de 2009

Livro: O ANJO DE MATO GROSSO (Hans Haller)


1. Infância / Juventude (parte V)


„Não havia pessoal disponível para a observação dos mutilados de guerra. Mesmo assim era necessário que alguém tomasse conta dos aparelhos ligados aos recém-operados. Eu sacrificava o meu dia livre e, quando possível, as minhas horas livres diárias. Nesta época eu trabalhava na sala de operações e assim quase nunca tinha horas livres.

Durante as noites, muitas vezes, me chamavam para acompanhar os moribundos. Já que os soldados não tinham os familiares por perto, ficavam completamente sós. Eu tinha uma satisfação muito grande em poder dar um pouco de conforto e lembranças de uma pátria melhor, aos homens, na hora de sua morte. Eu segurava as suas mãos até a última expiração e isto os fazia se sentirem em segurança e ter uma paz profunda. Esta paz podia ser notada em seus semblantes.“

A Rita interrompeu novamente: „Isso eu já vi acontecer muitas vezes. Mas continue por favor.“

”Muitos doentes tinham sede e recebiam chá de tília, que é muito saudável. Era tarefa das estudantes colher as flores da tília para fazer o chá. As reitoras incentivavam as alunas a subir nas árvores, prometendo uma tesoura de recompensa para cada oito sacos de flores de tília. Estas tesouras faziam parte dos instrumentos básicos das futuras enfermeiras, e elas tinham obrigação de comprá-los elas mesmas.

Como eu não tinha medo de subir em árvores, eu colhia as flores não só para mim como também para as minhas colegas, e assim elas conseguiam ter as suas tesouras.

Já durante os meus estudos, eu passava os meus dias livres no Hospital de Lausanne e ganhava lá um dinheirinho. No trem a caminho para lá, eu estudava os meus livros. Uma vez eu estava tão entretida na leitura que, quando percebi, o trem já havia passado da estação de Lausanne. Pela janela, eu via os imensos vi-
nheirais de Lavaux. O que é que eu faço? O trem estava indo para Berna e já era noite. Eu não podia pernoitar fora, pois o pessoal me aguardava para a vigília da noite. Eu peguei minha maleta de instrumentos e meus livros e, num dos sinais no qual o trem dava uma paradinha, eu pulei para fora e procurei a estrada. Para chegar lá eu tive que pular vários muros que protegiam e separavam as videiras. Num deles, que era bem mais alto, eu perdi minha maleta que rolou barranco abaixo. E eu correndo atrás !

Um vinicultor idoso disse: Moça, não tenha medo! Eu não vou te fazer nada. Venha aqui, você pode comer quantas uvas quiser!

O homem estava pensando que eu era uma ladra de uvas. Mesmo assim eu aceitei o seu convite e, enquanto nós saboreavamos as frutas maravilhosas, contei o que tinha me acontecido. Ele foi muito prestativo e levou-me ao lugar que eu tinha que ir.“

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