
2. Primeira Viagem ao Brasil (parte II)
Eu ficava desorientada, chegando a conclusão de que tudo que eu fazia era pouco demais. O equipamento era insuficiente, os remédios eram escassos e meus co-nhecimentos não abrangiam todos os setores necessários. Eu tinha que assistir às parturientes, porém, eu não possuia os conhecimentos de uma parteira formada. Quando ocorriam complicações, eu percebia que deveria fazer urgentemente um curso de obstetrícia. Justamente nesta área, é muito importante uma assistência competente.
A miséria e o sofrimento da classe mais pobre me preocupava muito. Numa das manhãs, quando me levantei, eu cheguei na porta do hospital e encontrei uma moça índia chorando. Eu imediatamente a reconheci: ela não tinha dinheiro e nenhuma indicação de algum médico. Por isso ela havia passado a noite ao ar livre. Ali mesmo, ela deu a luz a uma menina. A indígena, exausta, deve ter deixado o neném cair. O pequeno corpo, ensanguentado e sem vida, jazia no chão ao seu lado. Eu cuidei da infeliz mãe e enterrei a criança. Com este fato, eu pedi minha demissão e procurei meu irmão.”
Anna Pedroni expressou em palavras o pensamento das suas amigas: ”É incrível ! Como é que alguém pode ser tão sem escrúpulos ?”
Graziella disse: ”Antigamente havia casos parecidos na Suíça. Na prosperidade, muitas vezes, a gente cerra os olhos para o nosso passado e também para os des-tinos dos próximos nos países mais pobres. Continue por favor, Raquel !”
”Eu sei muito bem que isto não foi um caso esporádico. Eu assisti a muitos dramas como este nos meses que se passaram. Eu só estava pensando como um episódio assim teria feito manchetes acusadoras aqui na Suíça. Em Cuiabá e outras cidades do Mato Grosso, assim como no Norte do Brasil, sofrimentos como este fazem parte do dia a dia deste povo doente e desanimado.”
Eu expliquei ao Benjamim que eu queria ficar aqui. A meta da minha vida seria ajudar esta gente. Eu não teria mais um minuto de sossego, se eu voltasse a traba-lhar no Bürgerspital da Basiléia, para cuidar de suiços riquíssimos. Eu não queria, e não podia, ver pessoas sofrendo somente por não ter dinheiro para se tratar.
O forte Benjamim me abraçou - pequena e frágil irmã - e acariciou carinhosamente os meus cabelos.
Ele respondeu que, infelizmente, a maioria dos hospitais eram assim. Aqueles que mais necessitavam de assistência médica eram os que ficavam do lado de fora. Ele também me parabenizou pela minha decisão e prometeu me ajudar onde pudesse. Perguntou-me, então, o que eu pretendia fazer.
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