Existem pessoas muito amargas no mundo. Pessoas que parecem ter se tornado indiferentes à dor alheia, às dificuldades que tantos enfrentam.
Fechadas em si mesmas, essas pessoas somente exteriorizam a mágoa que as atormenta.
Por mais familiares ou amigos as envolvam em manifestações de afeto, de consideração, elas persistem na sua posição.
Afirmam que foram muito feridas, receberam traições, sofreram em demasia e, por isso, ficaram assim.
Contudo, há de se considerar que, em verdade, a causa da sua amargura não são as dores eventualmente experimentadas, desde que muitas pessoas sofreram muito mais do que elas e não têm essa mesma reação.
Recordamos do exemplo da paquistanesa Mukhtar Mai.
A jovem, para atender uma desavença tribal, mereceu a penalidade da violência sexual, por vários homens do clã que se considerou ofendido.
Sua história ganhou as manchetes. Tudo porque essa jovem corajosa, em vez de se entregar ao desespero, resolveu lutar por seus direitos.
Direitos humanos. Direitos de mulher.
Sabedora de que centenas de mulheres, em seu país, se suicidam, todos os anos, depois de passarem por situações semelhantes à sua, ou outras violências, resolveu agir.
Analfabeta e pobre, a partir de valores que lhe foram dados pelo governo paquistanês, em um acordo histórico, ela abriu uma escola para meninas.
Seu objetivo é que as futuras gerações de mulheres, em seu país, não cresçam analfabetas como ela e venham a ser vítimas indefesas de toda forma de barbárie.
Diretora de escola, foi eleita Mulher do Ano, nos Estados Unidos, em 2005.
Em março de 2007, o Conselho Europeu outorgou a ela o North-South Prize de 2006, pela contribuição notável aos direitos humanos.
É ela mesma, Mukhtar Mai quem diz: Se eu ficasse em casa chorando e me lamentando pelo meu destino, não poderia mais me olhar no espelho.
Às vezes, fico sufocada de indignação. Mas nunca perco a esperança.
Minha vida tem um sentido. Minha infelicidade tornou-se útil para a comunidade.
Todos os dias eu ouço as meninas recitarem suas lições, correrem, conversarem no pátio e rirem.
Todas essas vozes me reconfortam, alimentam minha esperança.
Essa escola tinha de ser criada, e eu continuarei a lutar por ela.
Daqui a alguns anos, essas menininhas já terão suficientes ensinamentos escolares para enfrentar a vida de uma outra maneira, espero.
Luto por mim mesma e por todas as mulheres vítimas de violência em meu país.
Ao defender meus direitos de ser humano, lutando contra o princípio da justiça tribal que se opõe à lei oficial, tenho a convicção de estar apoiando as intenções da política de meu país.
Se pelos estranhos caminhos do destino posso ajudar, desse modo, o meu país e o seu governo, é uma grande honra.
Que Deus proteja minha missão.
* * *
Pensemos no exemplo e nas palavras da paquistanesa, que continua aguardando por justiça, sem deixar de lutar pelo bem geral.
Pensemos e, ante as dores que nos cheguem, decidamos pela melhor ação: aproveitar integralmente a lição, a oportunidade, o momento.
Utilizemos a dor a nosso favor e, se possível, de todos os demais que conosco privam das bênçãos deste lar chamado Terra.
Redação do Momento Espírita, com base no livro
Desonrada, de Mukhtar Mai, ed. BestSeller.
Em 9.2.2017.
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