


6. Excursões – Parte III
Quando eu abrangia tudo com a vista e refletindo bem, eu tinha que dizer, que eu estava somente no início. Isto, quando eu já tinha chegado no limite da minha própria capacidade. Eu sentia que não poderia mais abusar do meu corpo como até então. Mesmo assim, eu queria concretizar meus planos para o futuro. Fim de 1962, eu assinei um contrato de compra de um terreno.“
Anna perguntou: „Como é que isso foi possível? Nesses últimos dias, você nos contou que vivia com pouco dinheiro.“
„Neste caso também foi destino: no meio da noite chegou um latifundiário até o meu ambulatório. Ele estava totalmente desesperado, batendo na porta da minha cabana de barro. Depois que entrou, desandou em prantos. Ele me contou uma
história incrível, para pessoas que não conhecem a situação da região. O homem possuia muitas terras mas não tinha dinheiro vivo. Ele havia feito uma dívida de honra que estava para vencer. Seus credores tinham lhe ameaçado de morte, caso ele não pagasse pontualmente. Eu sabia que nesta terra a vida de uma pessoa não valia muito. As pessoas não são muito delicadas e ele teria que contar com um atentado contra a sua vida. Ele pensava que eu era americana, por eu ter trabalhado na missão antigamente. Todo mundo pensa que todo cidadão americano é cheio de dinheiro.
Eu expliquei para ele que eu era suíça e que não tinha quase nada. Eu não sabia como ajudá-lo.
Novamente ele teve um ataque de choro. Ele implorou, dizendo que mesmo uma quantia mínima, no momento, o salvaria do pior. Quem sabe ele poderia ter um prazo para a quantia restante. – Ele perguntou se a minha pátria não era rica. Na Europa, certamente, não haveria miséria e nenhum assassino...
Se a minha dó não fosse tão grande, eu talvez tivesse rido. Eu o acalmei e expliquei a situação. Nada o impressionou mais do que quando eu assegurei-lhe que nós, na Suíça, não tínhamos dólares. Mesmo assim, meu cérebro trabalhava a mil. Eu tinha certeza de que não receberia nenhum franco de volta, se eu lhe emprestasse. Entretanto, ele me ofereceu um bom terreno. Ele não foi muito generoso, mas me ofereceu um bom preço. Eu tinha no meu quarto o equivalente a 300 francos, escondidos.“
Graziella comentou: „Então você não fazia tudo de graça, né?“
„Fazia sim. No Brasil as pessoas não me pagavam em dinheiro. Eu também não teria aceito nada. Elas tinham que saber que eu as ajudava de graça, senão os pobres teriam morrido sós em suas cabanas. Mas havia fazendeiros que me traziam gêneros. Como eu já contei antes, eu trabalhava, às vezes, no Hospital Samaritano em São Paulo e ganhava um dinheirinho.“
Ela olhou meio sentida para a Graziella, que baixou a cabeça.
„Desculpe por favor. Mas eu tive que fazer esta pergunta. Você tinha se gabado de nunca aceitar nada. Eu achei que esta atitude era infantil. Você me explicou agora o motivo. O dinheiro dos ricos você poderia usar, depois, para os pobres, por exemplo na compra de medicamentos ou do terreno.“
„É verdade, mas eu não fiz isso. Eu estou vendo que vocês acompanham bem as minhas narrativas e são críticas com elas. – Há anos atrás, os meus amigos na Suíça, abriram uma conta de banco em Zurique com o nome „Obra Beneficente Armenhilfe“ (auxílio aos pobres), para a qual iam as doações obtidas. Foi de lá e do meu trabalho no hospital que eu guardei este dinheiro.
O homem me ofereceu um bom terreno. Daqui a alguns anos, certamente, valerá bem mais, se estiver a venda. Eu decidi fazer o negócio. Era proveitoso para os dois lados. Eu fui buscar o dinheiro e o entreguei ao fazendeiro, contra um recibo. O brasileiro entrou numa verdadeira verbosidade.
Mas ainda faltavam 200 francos, que eu iria conseguir na Suíça. Eu disse a ele que solicitasse um adiamento do prazo, em meu nome.
Eu estava pisando num pedaço de terra próprio. Era constituído de capim, mato e pedras, mas ele pertencia à área comunal de Rosário-Oeste. Eu muitas vezes ia até lá, por alguns momentos, ou ia em pensamento. Eu estava mais próxima da concretização dos meus sonhos.
Apesar de ter agora um terreno meu, eu ainda não estava completamente feliz em Rosário-Oeste. Diversas vezes eu arranjava papelada para as pessoas: homens precisavam de uma confirmação para que pudessem trabalhar. Outros não tinham certidão de nascimento. Nestes casos, prestativa como sou, eu os levava a Cuiabá. A viagem e a burocracia me tomavam dias. As estradas eram muito ruins.
Enfim, um médico começou as suas atividades em Rosário-Oeste, aliviando um pouco a minha carga de trabalho.
Há anos os cidadãos de Várzea Grande – um bairro das redondezas de Cuiabá – tinham me assediado para ir trabalhar lá. Quando eu estava conversando com meu irmão Benjamim sobre a idéia da construção da casa, eu me decidi: eu tinha comprado o terreno, bem em conta naquela época. Custos para puxar água e luz, imposto territorial e outras despesas iriam custar muito dinheiro. Meu irmão co-nhecia um suíço, que tinha diversos terrenos em Várzea Grande. Para ajudar a minha obra, ele concordou num negócio de troca.
Quando eu abrangia tudo com a vista e refletindo bem, eu tinha que dizer, que eu estava somente no início. Isto, quando eu já tinha chegado no limite da minha própria capacidade. Eu sentia que não poderia mais abusar do meu corpo como até então. Mesmo assim, eu queria concretizar meus planos para o futuro. Fim de 1962, eu assinei um contrato de compra de um terreno.“
Anna perguntou: „Como é que isso foi possível? Nesses últimos dias, você nos contou que vivia com pouco dinheiro.“
„Neste caso também foi destino: no meio da noite chegou um latifundiário até o meu ambulatório. Ele estava totalmente desesperado, batendo na porta da minha cabana de barro. Depois que entrou, desandou em prantos. Ele me contou uma
história incrível, para pessoas que não conhecem a situação da região. O homem possuia muitas terras mas não tinha dinheiro vivo. Ele havia feito uma dívida de honra que estava para vencer. Seus credores tinham lhe ameaçado de morte, caso ele não pagasse pontualmente. Eu sabia que nesta terra a vida de uma pessoa não valia muito. As pessoas não são muito delicadas e ele teria que contar com um atentado contra a sua vida. Ele pensava que eu era americana, por eu ter trabalhado na missão antigamente. Todo mundo pensa que todo cidadão americano é cheio de dinheiro.
Eu expliquei para ele que eu era suíça e que não tinha quase nada. Eu não sabia como ajudá-lo.
Novamente ele teve um ataque de choro. Ele implorou, dizendo que mesmo uma quantia mínima, no momento, o salvaria do pior. Quem sabe ele poderia ter um prazo para a quantia restante. – Ele perguntou se a minha pátria não era rica. Na Europa, certamente, não haveria miséria e nenhum assassino...
Se a minha dó não fosse tão grande, eu talvez tivesse rido. Eu o acalmei e expliquei a situação. Nada o impressionou mais do que quando eu assegurei-lhe que nós, na Suíça, não tínhamos dólares. Mesmo assim, meu cérebro trabalhava a mil. Eu tinha certeza de que não receberia nenhum franco de volta, se eu lhe emprestasse. Entretanto, ele me ofereceu um bom terreno. Ele não foi muito generoso, mas me ofereceu um bom preço. Eu tinha no meu quarto o equivalente a 300 francos, escondidos.“
Graziella comentou: „Então você não fazia tudo de graça, né?“
„Fazia sim. No Brasil as pessoas não me pagavam em dinheiro. Eu também não teria aceito nada. Elas tinham que saber que eu as ajudava de graça, senão os pobres teriam morrido sós em suas cabanas. Mas havia fazendeiros que me traziam gêneros. Como eu já contei antes, eu trabalhava, às vezes, no Hospital Samaritano em São Paulo e ganhava um dinheirinho.“
Ela olhou meio sentida para a Graziella, que baixou a cabeça.
„Desculpe por favor. Mas eu tive que fazer esta pergunta. Você tinha se gabado de nunca aceitar nada. Eu achei que esta atitude era infantil. Você me explicou agora o motivo. O dinheiro dos ricos você poderia usar, depois, para os pobres, por exemplo na compra de medicamentos ou do terreno.“
„É verdade, mas eu não fiz isso. Eu estou vendo que vocês acompanham bem as minhas narrativas e são críticas com elas. – Há anos atrás, os meus amigos na Suíça, abriram uma conta de banco em Zurique com o nome „Obra Beneficente Armenhilfe“ (auxílio aos pobres), para a qual iam as doações obtidas. Foi de lá e do meu trabalho no hospital que eu guardei este dinheiro.
O homem me ofereceu um bom terreno. Daqui a alguns anos, certamente, valerá bem mais, se estiver a venda. Eu decidi fazer o negócio. Era proveitoso para os dois lados. Eu fui buscar o dinheiro e o entreguei ao fazendeiro, contra um recibo. O brasileiro entrou numa verdadeira verbosidade.
Mas ainda faltavam 200 francos, que eu iria conseguir na Suíça. Eu disse a ele que solicitasse um adiamento do prazo, em meu nome.
Eu estava pisando num pedaço de terra próprio. Era constituído de capim, mato e pedras, mas ele pertencia à área comunal de Rosário-Oeste. Eu muitas vezes ia até lá, por alguns momentos, ou ia em pensamento. Eu estava mais próxima da concretização dos meus sonhos.
Apesar de ter agora um terreno meu, eu ainda não estava completamente feliz em Rosário-Oeste. Diversas vezes eu arranjava papelada para as pessoas: homens precisavam de uma confirmação para que pudessem trabalhar. Outros não tinham certidão de nascimento. Nestes casos, prestativa como sou, eu os levava a Cuiabá. A viagem e a burocracia me tomavam dias. As estradas eram muito ruins.
Enfim, um médico começou as suas atividades em Rosário-Oeste, aliviando um pouco a minha carga de trabalho.
Há anos os cidadãos de Várzea Grande – um bairro das redondezas de Cuiabá – tinham me assediado para ir trabalhar lá. Quando eu estava conversando com meu irmão Benjamim sobre a idéia da construção da casa, eu me decidi: eu tinha comprado o terreno, bem em conta naquela época. Custos para puxar água e luz, imposto territorial e outras despesas iriam custar muito dinheiro. Meu irmão co-nhecia um suíço, que tinha diversos terrenos em Várzea Grande. Para ajudar a minha obra, ele concordou num negócio de troca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário