18 de ago. de 2009

Livro: O ANJO DE MATO GROSSO (Hans Haller)


3. A Enfermeira da Missão (Parte I)

Já era o terceiro dia que Rachel contava, às cinco ouvintes do lar de velhinhos de Brissago, sobre a sua vida repleta de realizações. Mas antes de começar, ela explicou:

”Hoje eu vou estar a última vez aqui com vocês, por dias ou talvez semanas.”

Maria perguntou: ”Por quê ?”

”Como vocês devem ter percebido, e eu já mencionei, tenho, há tempos, uma doença nos olhos. Eles me doem cada vez mais, e eu enxergo cada vez menos. Eu vou dar entrada em uma clínica, no Appenzell, para que os médicos me examinem e me operem”.

Rosa disse: ”Eu tive que operar a catarata, no ano retrasado. Graças a Deus, tudo foi bem. Desejo, à você, boa sorte”.

”Obrigada.“
Rachel continua a relatar suas experiências no Brasil.

„Rosário-Oeste não me largou mais. Se diz ”Oeste” para diferenciar dos outros Rosários que existem. Fica a 125 quilômetros de Cuiabá, na direção do Amazonas. Para o Rio de Janeiro são 2300 quilômetros e São Paulo fica um pouco mais perto. Em Rosário-Oeste, viviam, naquela época, cerca de 2000 pessoas, sendo a maioria delas mestiços. Menos de cem quilômetros dali, aventureiros encontraram povoações indígenas.

Meus novos amigos e chefes tinham quatro filhos. O quinto, eu ajudei a vir ao mundo. Além da enfermaria, havia uma pequena igreja. Nela, os missionários pregavam o sermão, quando não estavam viajando pelo interior. Uma casinha de barro me servia como moradia. Ela tinha dois cômodos, em um deles eu coloquei uma cama, uma mesa e uma cadeira. Nas minhas duas malas eu guardava, além das minhas coisas pessoais, também os instrumentos e medicamentos. No segundo cômodo eu planejei fazer o consultório.

Mas a evolução das coisas me pegou de surpresa: Por todo canto havia doentes. Mesmo o meu quarto, eu repartia com gente necessitada de ajuda. Eu procurava ter um mínimo de privacidade, usando um biombo.

Alguns minutos após a nossa chegada, meu irmão veio ver como eu estava. Mais tarde, ele tinha o costume de vir uma ou duas vezes por ano. Em uma destas visitas de boas vindas ele me trouxe uma placa de metal, pintada de branco com uma cruz vermelha, que foi colocada, numa viga mais forte, por cima da porta da casa. Assim, o posto de saúde estava bem identificado.

Eu não precisei de mais divulgação, pois, logo tive muito o que fazer. As pessoas se apinharam por perto, quando Benjamim trouxe as minhas malas para dentro. Era um empurra, empurra e todo mundo ao meu redor, enquanto eu desfazia as malas. Uma moça tinha uma criança no colo, cujos olhos estavam cheios de pus. Eu parei com a arrumação, examinei a ferida, procurei o colírio e comecei a mi-nha missão...

Muitas vezes, na sua passividade, as pobres pessoas nem sabiam o quanto doentes estavam. Quando elas sentiam dores é que percebiam que alguma coisa não estava bem com o seu corpo. Neste ponto já era tarde para uma cura. Eu ficava arrepiada com os remédios caseiros usados por elas, os quais também não adiantavam nada.

Para eles, eu era a mulher branca enviada, pela misericórdia de Deus, para ajudá-los. A boa notícia se espalhou, rapidamente, em todos os cantos da região amazônica:

Enfim, veio ajuda também para os pobres !

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