27 de out. de 2009

Livro: O ANJO DE MATO GROSSO (Hans Haller)



5. A Visita de Rebecca (Parte I)

No dia seguinte, a Rosa disse para Rachel, antes que esta começasse com a narrativa:

„Ontem eu falei, ao telefone, com a minha filha. Ela organisou uma consulta com aquela oftalmologista para você. Eles esperam, por você, em Lörrach na outra semana“.

„Muito obrigada. Mas como é que eu chego lá? Eu acho que deve ser difícil fazer tudo, em um só dia“.

„Não se preocupe. Eu contei a minha filha sobre a sua obra. Ela ficou muito impressionada e quer te ajudar. Você deve pegar o trem até Basiléia e de lá ela te levará a Lörrach. Se ficar muito tarde, você poderá pernoitar na casa dela.“

„Vocês são tão amáveis comigo, Deus lhes pague.“

Ainda agradecida, Rachel continuou sua história: „Como eu já mencionei antes,eu

sonhava em expandir o meu trabalho. Consegui realizar isto em 1960. Minha irmã mais velha, que era solteira, foi me visitar.

Ela não só foi curtir o céu azul, gozar do sol tropical ou desfrutar uma sombrinha deitada, quando o sol esquentava demais. Rebecca conhecia o meu trabalho, pelas minhas cartas. Ela queria mesmo era ajudar. O que não seria difícil para ela, já que era enfermeira formada. Era muita sorte que minha irmã fosse ficar um ano inteiro no Brasil.

Enfim, eu podia fazer viagens prologadas. Às vezes, nós íamos de duas e outras eu podia prolongar descansada. Eu sabia que a missão estava bem cuidada. Nós arriscávamos viagens mais longas – primeiro a cavalo e para isto Rebecca teve que aprender a montar na marra. Ela teve as suas experiências no caminho. Eu admiro a coragem dela. Como principiante ela cavalgava, mesmo a noite, longas distâncias pelo sertão afora.

Eu fiquei muito grata em ter ajuda e companhia. Enfim, eu não estava mais só com as dificuldades. Além disso, nós duas conseguíamos levar mais medicamentos e fortificantes conosco.

Para vocês verem o quanto ela sabia improvisar, vou contar a seguinte fato: Em Rosário-Oeste, como na maioria das casas brasileiras, o feijão era, de costume, o alimento cotidiano. Quando a Rebecca quis começar a cozinhar, ela percebeu que o saco de feijão estava todo cheio de bichinhos. Ela não tinha tempo nem dinheiro para comprar outro logo em seguida. Os pacientes, como também nós, estávamos esperando pela comida. Rebecca cozinhou o tal feijão e misturou uma lata de extrato de tomate, que ela tinha achado numa prateleira. Com este truque, ninguém percebeu que o prato do dia continha „carne“. Todos adoraram a comida!“

Anna Pedroni comentou: „Nós hoje almoçamos feijão com extrato de tomate. Que bom que você não nos contou esta história antes. – Mas esta presença de espírito era típica de Rebecca. Na semana passada, eu a encontrei em Ascona. Apesar dos seus 83 anos ela é de uma iniciativa incrível e de uma alegria de viver. Quem não sabe, acreditaria plenamente que ela não tem mais do que 70 anos.“

„Em 1963, aconteceu uma outra coincidência feliz. Amigos e doadores organizaram coletas em diversos países. Com o produto, eu consegui comprar um Jeep usado. As aulas de trânsito eu tomei rapidinho e tirei a carteira de motorista brasileira. Regras de trânsito, como na Europa, eu não precisei aprender, porque na floresta não existe sinalização.

Esta comparação não vale exatamente, pois, na floresta não era possível entrar com o carro. Deixava-o sempre no começo dela. Além disso, eu ia para São Paulo uma vez por ano para, como já comentei, fazer coleta de medicamentos e fortificantes. Lá, não havia outra alternativa senão me enfiar no labirinto de placas e sinais de trânsito. Todavia, não era tão confuso como na Suíça.“

Graziella perguntou: „Vocês não tinham medo? Eu acho que eu teria morrido de medo.“

„Tínhamos. Nós também morríamos de medo. Porém, as aventuras eram compensatórias. O primeiro contato com os índios foi bem interessante. Nós havíamos deixado o Jeep, e carregando nossa bagagem, seguimos por um caminho bem largo, que, como havia sido contado, iria dar em uma aldeia indígena. Parecia meio suspeito, mas com o passar dos anos, eu me acostumei a muita coisa. Eu gostava de aventuras e pouca coisa me deixava transtornada. A Rebecca escondia, corajosamente, o seu mal estar. Em compensação, ela teve oportunidade de ver como nascem brotos de bambú.

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