9 de nov. de 2009

Livro: O ANJO DE MATO GROSSO (Hans Haller)

5. A Visita de Rebecca (Parte II)

Nós parávamos, frequentemente, púnhamos nossa bagagem no chão e tentávamos escutar os gritos dos animais afugentados. Nós nos esforçávamos em ver algo. Em um dos momento, eu estremeci mas agüentei calada. Minha consideração não adiantou nada, pois, Rebecca já tinha visto as cabeças de índios aparacendo e desaparecendo, rapidamente, entre as folhagens.
Nós olhamos uma para a outra e pensamos naquilo que já tínhamos conversado inúmeras vezes antes: Quando os nativos nos achassem, não haveria mais saída. Aí, começaria a verdadeira aventura. Será que eles nos tratariam como amigas ou inimigas? Será que eles iriam atirar de emboscada, com arco e flexa ou talvez lança, contra nós? Nós tínhamos que contar com uma recepção desta. Porém, também sabíamos que os índios ficariam tanto mais desconfiados, quanto mais nos mostrássemos inseguras. Seriam suficientes olhares de entendimento. Não havia necessidade de falar nada. Cada uma de nós pegou suas bolsas e malas e continuamos no caminho. Enfim, nós queríamos encontrar os nativos! Alguns minutos mais tarde, nós demos outra parada e descansamos de carregar a bagagem. Olhando para todos os lados, nós percebemos que o nossos acompanhantes ou perseguidores ficavam, também, parados atrás dos arbustos. Rebecca e eu trocamos um olhar, o qual queria dizer: Fé em Deus! Mais uma vez, nós pegamos a nossa bagagem e continuamos a andar. De repente, a floresta clareou. Nós deparamos com uma clareira através das ramagens. Nela, havia algumas cabanas de madeira e folhagens. Os nossos pés queriam parar, mas nós teimamos em continuar andando. Parar ou voltar seria a coisa mais tola que poderíamos fazer. Continuando a nossa marcha, nós vimos, que de ambos os lados do caminho emaranhado, os índios saíam do mato. Todos estavam olhando para nós. E nós seguindo o nosso caminho, através do verde cerrado. À nossa frente encontramos um muro de corpos humanos. Seguimos em frente, em nome de Deus! Eu ainda sentia o gosto amargo na minha boca, que havia começado quando demos o primeiro passo na clareira. Ao meu lado, ouvia o roçado do vestido de Rebecca... Então o muro de corpos vermelhos se dissolveu. Sem um pio, os homens vieram até nós, tomaram a nossa bagagem, deram meia volta e seguiram rapidamente, como ladrões. Mais tarde, eu soube que eles já tinham ouvido falar das minhas atividades. Isto explicava esta recepção amiga. Os nossos ajudantes davam passos tão grandes que Rebecca e eu quase tínhamos que correr para poder acompanhá-los. Eles se dirigiram a uma moradia e sumiram entrando nela. Nós atrás deles... Depois que os nossos olhos se acostumaram à escuridão, encontramos as nossas coisas no chão da cabana. Em volta delas estavam alguns vultos escuros. Olhos brilhantes se dirigiam para o nosso lado. Eu tentei falar em português, mas o entendimento era difícil. Então começamos a fazer sinais com as mãos. Os nossos ajudantes nos levaram a cabanas onde havia doentes deitados. Muitas vezes, eram famílias inteiras precisando de ajuda. Eu tratava dos doentes ajoelhada no chão. Vermes, horríveis infecções causadas por carrapatos, feridas purulentas (também nos olhos), casos cirúrgicos e outros me aguardavam. Eu bem que tinha imaginado isso.... No canto de uma moradia, encontramos, em uma rede, um velho índio moribundo. Embaixo, de cócoras, a esposa e ao lado dela um cachorro. A mulher mexia com a mão dentro de uma casca de abóbora, um pouco de farinha de mandioca com água. Ela levantou-se e tentou dar o mingau para o velho, mas ele não conseguia engolir nada. Cheguei perto dele e o examinei. Eu constatei que ele estava totalmente enfraquecido. A lingua dele estava dura como couro, consegui aliviá-lo um pouco com uma injeção. Mesmo assim, eu desta vez não consegui vencer a morte. Dentro de alguns dias ela viria buscá-lo. A mulher estava ajoelhada ali. Com um semblante impenetrável, ela nos ofereceu o mingau que o marido não conseguia comer. Foi um gesto comovente. Mas para nós, apesar de estarmos acostumadas, era extremamente nojento. Eu nos salvei desta situação delicada, sem ofender a índia: Eu aceitei a tijela sorrindo, fui até uma criança de barriga inchada que nos olhava insistentemente, e lhe dei de comer o mingau com uma colher de pau. Eu sussurrava palavras amáveis e os presentes compreenderam a minha ação, da maneira como eu esperava. Nós deixamos medicamentos e fortificantes na pequena aldeia e voltamos. Desta vez, não tivemos que carregar bagagem alguma. Índios frenéticos a levaram até o Jeep. Eles também nos indicaram o caminho para outras aldeias. Nos nossos encontros posteriores com os índios, experimentei o que caçadores e comerciantes já faziam a tempos. Eles tentavam ganhar a graça das pessoas dando os mais estranhos presentinhos. Rebecca e eu pegamos aquele já mencionado caminho e mal tínhamos entrado mato adentro, apareceu um bando de crianças nos empurrando e gritando. Tirei de uma das malas alguns balões, os quais Rebecca e eu enchemos de ar diante dos olhos arregalados dos pequenos moradores da floresta. Depois de cheios, ainda amarramos um barbante em cada um. Um menino pegou o primeiro e uma meni-na o segundo. Aí começou o empurra, empurra... Nós soprávamos até não poder mais! Não nos desfizemos do estoque todo, mas quase. A aldeia ficava perto de onde começava a floresta. As crianças corriam de lá para cá. Elas riam, tagarelavam, gritavam... De vez em quando nós nos assustávamos com um estrondo. Era um balão que tinha estorado. Aí começava a choradeira e de novo elas vinham nos assediar. A bagunça tinha logo atraído os adultos. Os homens nos pediram gesticulando para que fôssemos às cabanas. A nossa bagagem ia de mão em mão. Rebecca e eu fizemos o nosso trabalho. Com o passar dos anos, não fizemos uma „grande“ amizade com os índios, mas lá onde já tínhamos estado, éramos bem recebidas por eles. Porém, a selva era imensa e nós sempre tínhamos que visitar novas aldeias e ajudar. Quer dizer, nós tínhamos que sempre fazer novos contatos. A notícia da nossa vinda se espalhava bem antes da nossa chegada. Em muitos lugares, eles nos aguardavam há tempo.
PAUSA NA LEITURA:

HOMENAGEM A BENJAMINO STEINGRUBER

Uma pequena homenagem a Benjamino Steingruber, irmão mais novo de Rachele e Rebecca, que faleceu no dia 07 de novembro, no município de Poconé-MT.

Rachele veio ao Brasil pela primeira vez para afastar a tristeza da perda dos pais, e em visita ao irmão, e por aqui firmou raízes, instituindo esta obra grandiosa que é a Fundação Nova Suíça Rachele Steingruber.

Nossas mais sinceras homenagens a este suíço desvabrador, muitas vezes incompreendido por sua conduta diferente dos padrões da sociedade, confundido com um "selvagem", cujo jeito de ser levou ao apelido "Tarzan".

Sentimo-nos privilegiados em passar o Natal de 2005 com os três irmãos Steingruber, na sede da Fundação Nova Suíça, num clima de harmonia e muita alegria.

Que Jesus abençoe este homem, que certamente já foi acolhido no plano espiritual por suas queridas irmãs.

Amigos voluntários da Fundação Rachele Steingruber, na residência de Benjamino Steingruber em Poconé-MT, junto com seu filho adotivo, no dia do seu falecimento.
(Ângelo, Ana Flávia, Silvia, Terezinha e Zanin)




Benajmino na neve da Suíça


Benjamino com as roupas que costumava utilizar quando mais novo - o "Tarzan"


Bejamino/Tarzan saltando da ponte do Rio Cuiabá



Com sua irmã Rachele



















Em sua casa em cima de uma árvore


Vestido de Papai Noel





Sobre um elefante









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